Histórico do Município de Monte
Alegre
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A história da maioria dos municípios da Amazônia, ainda é
envolto em algumas incertezas, a maioria dos estudos históricos é baseada em
pesquisas feitas por estudiosos que realizaram suas atividades há muito tempo
atrás, e não obstante são tomados como base, para os trabalhos mais recentes,
não se pode é claro, desmerecer os historiadores do passado, mas temos que ter a
clareza, que muitas afirmações são baseadas apenas em divagações e entrevistas
orais, que vão passando por gerações.
O desprezo pelo zelo da história, não é de agora, documentos
importantes de nossa história se perderam no tempo, por não haver conservação
nem interesse para isso. Se hoje um historiador viesse à sede do município para
fazer uma pesquisa, que embasasse uma história consistente e verdadeira, não
encontraria muita coisa conservada, o máximo que seria encontrado seriam os
registros cartorários, alguns documentos religiosos e talvez alguns também na
Prefeitura Municipal, mas, nada que remetesse aos primórdios de nossa
história.
O relato da história do município de Monte Alegre, feito neste
site, é baseado, em historiadores e estudiosos da história regional do Pará. E
sempre nos remeteremos à fonte de consulta, para repartir, assim,
responsabilidade, sobre a veracidade dos fatos.
Para muitos historiadores, entre eles o célebre
Arthur César Ferreira Reis (1942), O
Município de Monte Alegre é conseqüência de uma das mais antigas fundações
urbanas da região Amazônica, cuja origem pode anteceder à própria ocupação da
região pelos colonizadores lusitanos.
Segundo os relatos históricos, o primeiro navegador estrangeiro
que explorou a região do Médio-Baixo Amazonas foi o espanhol Francisco Orellana, em 1540, durante a sua viagem
ao longo do Grande Rio, percorrendo-o de sua nascente até sua foz. Essa viagem
deu origem a muitas lendas, como a da tribo das índias Amazonas, que deu nome à
região, ao principal rio e ao maior Estado, o Amazonas.
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A COLONIZAÇÃO
PORTUGUESA
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Os primeiros colonizadores portugueses chegaram à região do
Médio-Baixo Amazonas em 1639, integrando a expedição comandada pelo capitão
Pedro Teixeira (FRIAES, 1997). O primeiro local visitado foi o aldeamento de Gurupatuba, localizado na
margem esquerda do paraná homônimo, cuja denominação foi herdada dos índios
Gurupatuba, antigos habitantes da região. Além dos Gurupatuba, outros grupos de
silvícolas viviam na região, como os
Carabocas, os
Bubuizes, os Mariaus
e os Serranos (REIS, 1942).
No início da colonização portuguesa, coube aos religiosos
Capuchos da Piedade grande parte das
terras da margem esquerda do rio Amazonas, para fundarem “missões” que tinham
como principal objetivo a catequese dos índios, daquela região. Segundo alguns
historiadores, essa catequese teria sido iniciada no começo do século XVIII,
antes de 1710, considerando que uma Carta Régia datada de 2 de julho, daquele
ano, entregava, a região do Jarí, aos padres da Companhia de Jesus, excluindo os
religiosos das ordens das Mercês e da Piedade, os quais, no entendimento
daqueles historiadores, já se encontravam em serviço de catequese, na margem
esquerda do Amazonas.
Embora não exista uma definição com relação à época de fundação
do núcleo originário da atual cidade de Monte Alegre, é aceito que os Capuchos
da Piedade teriam iniciado a colonização do município, a partir da criação de
uma missão, na aldeia dos Gurupatuba, às margens do paraná homônimo;
posteriormente, a mesma teria sido transferida para o local onde está erigida,
atualmente, a sede municipal (CORRÊA, 1976).
Existem, todavia, controvérsias entre os historiadores com
relação à ordem religiosa que estabeleceu a primeira “missão” na aldeia de
Gurupatuba. Segundo Arthur Cezar Ferreira Reis, um dos mais brilhantes
estudiosos da história de Monte Alegre, o primeiro posto de catequese na aldeia
foi estabelecido por religiosos da Companhia de Jesus, jesuítas, ainda no século
XVII. De acordo com o mesmo autor, o jesuíta missionário João Felipe de
Bettendorf, nascido em Luxemburgo, visitou a aldeia de Gurupatuba em 1661, tendo
ali erguido uma cruz. A partir de 1681, a aldeia passou a contar com a presença
permanente dos religiosos Inacianos, responsáveis pela edificação de uma igreja
a Nossa Senhora da Conceição. Nesse período, Gurupatuba experimentou uma fase de
grande desenvolvimento, chegando a representar, pela sua importância, o papel de
uma verdadeira capital das missões do Baixo Amazonas. Com a chegada dos frades
da Piedade, à região, Gurupatuba passou para o domínio dos mesmos, que ali se
estabeleceram por mais de meio século, edificando, entre outras obras, um grande
templo em homenagem a São Francisco de Assis, hoje padroeiro da cidade de Monte
Alegre. Durante a administração dos frades da Piedade, a posição de destaque que
era ocupada por Gurupatuba foi transferida para Gurupá, onde aqueles religiosos
construíram uma estrutura maior.
Por sua posição geográfica, Gurupatuba representava o núcleo
populacional amazônico mais ocidental, sob o domínio português. O
estabelecimento das missões religiosas na Amazônia obedecia a um critério
geográfico, uma vez que as mesmas se situavam, geralmente, em pontos
estratégicos. Assim, além do religioso, existia o cunho político, pois, a
pretexto de guarnecer as missões estabelecidas, o governo de Portugal instalava
fortificações militares em pontos estratégicos, estendendo o seu domínio através
de uma região que, por força do Tratado de Tordesilhas, pertencia à
Espanha.
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O FIM DO PERÍODO
COLONIAL
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No Brasil colônia,encerrado o Período Pombalino, a
ascensão de D. Maria I ao trono de Portugal - devido ao falecimento de D. José
-n não trouxe, de imediato, qualquer mudança significativa para as vilas
instaladas na região amazônica.
Em Monte Alegre, como em todo o restante da Amazônia sob o domínio português,
nas últimas décadas do Período Colonial, o quadro social era extremamente
desfavorável ao primitivo habitante da região - o índio - do qual dependia
qualquer ação executada pelo poder constituído ou pelos colonos. Sem a presença
do índio, o Estado não teria mão-de-obra para a colheita, para a construção de
obra públicas e para os contingentes militares; os colonos não teriam como
desenvolver suas atividades.
Todavia, mesmo sendo reconhecida a sua importância para o desenvolvimento da
região, o índio era vítima da voracidade do Estado, através das ações de
diretores de vilas que os exploravam e os hostilizavam, num flagrante
descumprimento às instruções legais de proteção aos silvícolas. Esses desmandos
só foram minimizados a partir do governo de D. Francisco Maurício de Souza
Coutinho, que também foi o responsável pela instalação, em Monte Alegre, de uma
serraria para beneficiamento de madeiras nobres- principalmente o cedro- cujos
troncos eram carregados pelo rio Amazonas, em direção ao Atlântico.
A serraria Real, inaugurada no final do século XVIII, beneficiava as toras de
cedro, transformando-as em pranchas que eram comercializadas com Belém, e,
desta, exportadas para Lisboa, a fim de atender às grandes construções que eram
realizadas em Portugal.
A “pesca” e o posterior beneficiamento de toras de madeiras-de-lei
transformou-se em um próspero negócio para os montealegrenses, que se tornaram
em grandes fornecedores de matéria-prima para a construção naval, notadamente em
Belém, onde eram construídos navios para a frota lusitana (REIS, op cit).
Na segunda década do século XIX, devido à escassez de matéria-prima e à má
administração exercida pelo governo do Estado, a serraria Real encerrou suas
atividades, em Monte Alegre, transferindo-as para o vizinho município do Óbidos.
Essa transferência representou mais uma perda para Monte Alegre, que, ao final
do período colonial, via diminuir sua importância econômica.
Os ideais que nortearam a Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade) espalharam-se pelo novo mundo e chegaram à Amazônia, no início da
3ª década do século XIX (1821), encontrando um clima propício à sua
disseminação. Em Belém, as diferenças eram marcantes entre os reinóis (pessoas
naturais do reino) e os paraenses; enquanto os primeiros representavam o poder e
a opulência, aos nativos restavam o mal-estar, a fome e as demais dificuldades
que sempre são impostas às classes menos favorecidas. Dessa maneira, as idéias
de democracia dos filósofos europeus passaram a constituir a aspiração maior da
gente da região.
O inevitável choque entre esses dois grupos sociais ecoou por todo o interior
do Estado. Em Monte Alegre, a elite social e econômica era representada pelos
fazendeiros de gado, os proprietários das plantações de cacau, os exploradores
do setor madeireiro, enfim, os senhores da terra. A grande maioria da população,
representada por descendentes de índios, vivia à margem das mais elementares
conquistas sociais e, naturalmente, sonhava com mudanças nesse tão injusto
quadro social.
Assim, a sonhada Independência foi recebida com grande entusiasmo pelos
montealegrenses e, a 12 de outubro de 1822, Monte Alegre declarava sua adesão ao
novo sistema liberal. Por ocasião da Independência do Brasil, Monte Alegre ainda
detinha status de vila, o que foi mantido, mesmo após a nova divisão
administrativa da Amazônia, estabelecida pelo Conselho Provincial, depois de
decretado o Código do Processo Criminal do Império (REIS, op cit).
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A CABANAGEM NA REGIÃO DE MONTE
ALEGRE
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A cabanagem, o único movimento revolucionário através do qual o
povo brasileiro chegou efetivamente ao poder, foi desencadeada na Província do
Grão-Pará, no período de 1833 a 1840.
Àquela época, embora o Brasil já estivesse independente há mais
de uma década, no norte do País, mais precisamente no Pará, os portugueses agiam
como se a Nação Brasileira ainda fosse colônia de Portugal, causando profundo
mal-estar e descontentamento na população nativa, notadamente nos mais pobres,
que residiam nas periferias da capital e nas regiões ribeirinhas. Estes, via de
regra, viviam em habitações extremamente modestas, cobertas de palhas e
denominadas “cabanas”.
Assim, a principal causa da revolta era o antagonismo entre
portugueses e brasileiros, fomentador de um crescente sentimento de ódio aos
dominadores, aliado a um forte sentimento nacionalista.
Com a explosão do movimento revolucionário na capital da
Província, precipitado pela morte prematura do cônego Batista Campos-mentor
intelectual da Cabanagem - Monte Alegre passou a viver dias de agitação,
assumindo a segurança da vila o capitão-mor Antônio Clemente Malcher
(ironicamente, primo do primeiro presidente cabano, Félix Antônio Clemente
Malcher, um montealegrense), que comandava a terceira Companhia da Guarda
Nacional.
Sob o comando de Antônio Malcher, Monte Alegre preparou-se para
a luta armada, guarnecendo a vila para enfrentar um possível ataque dos rebeldes
cabanos, além de enviar uma expedição a Belém, para apoiar as forças
“legalistas”. A seguir, aliou-se a Santarém, onde funcionava a Comarca do Baixo
Amazonas, cujo juiz de direito - Dr. Joaquim Rodrigues de Souza – assumiu a
defesa da região, promovendo as ações necessárias à manutenção “da ordem e da
legalidade”, em todo o Baixo Amazonas.
O clima de tensão perdurou por todo o ano de 1835. Todavia, o
esperado ataque a Monte Alegre não aconteceu, apesar das ondas de boatos que
davam conta da presença cabana, às proximidades. O estado de tensão atingiu o
clímax no final daquele ano, quando foi descoberto o plano cabano para tomar de
assalto a vila, na noite de Natal. Com a prisão dos mentores da pretensa invasão
– Hilário Inácio Pereira, José Pires, Alexandre Sanches de Brito, Isidro Antônio
Raiol e Teodoro Ruiz Vieira – imaginaram os montealegrenses que o perigo havia
passado. Todavia, na madrugada de 28 de fevereiro de 1836, depois de ocuparem
Breves e Gurupá, os cabanos finalmente atacaram Monte Alegre. A primeira vítima
foi o capitão- mor Antônio Clemente Malcher, seguindo-se a execução de inúmeros
moradores. Monte Alegre, da mesma forma que as demais vilas do Alto e Baixo
Amazonas, estava sob o domínio cabano (REIS op cit).
Durante a ocupação de Monte Alegre, o governo da Província era
exercido por Eduardo Angelim, que foi o terceiro presidente cabano. Os rebeldes
de Monte Alegre, circunstancialmente no poder, reuniram a câmara local e
impuseram o reconhecimento de Angelim como presidente da Província. A vitória
cabana, àquela altura, estava consumada.
A partir de Monte Alegre, os rebeldes, cada vez mais
fortalecidos com a chegada de novos adeptos à causa, desencadeavam expedições
aos núcleos que ainda opunham alguma resistência à dominação cabana.
Entretanto, na capital, aumentava cada vez mais a resistência à
revolução cabana. Em abril de 1836, à frente de um forte aparato militar, o
general Francisco José Soares Andréa conseguia depor Eduardo Angelim e retomar o
governo da Província. Da mesma maneira, o Alto e o Baixo Amazonas também
iniciavam sua reação, na tentativa de restaurar a “legalidade” em toda a região.
Em Monte Alegre, à frente da resistência estavam o presidente da Câmara,
Francisco José Nunes, o vigário Antônio Macário Alves da Costa, o juiz municipal
Tomaz Ferreira e o juiz de órfãos Vitório de Assunção. E, a 22 de julho de 1836
tinha fim a dominação em Monte Alegre, muito embora os cabanos tenham realizado
outras tentativas de retomada do poder.
Finalmente, em outubro do mesmo ano, aportou em Santarém uma
grande expedição enviada pelo general Soares Andréa, com o objetivo de expulsar
definitivamente os cabanos e pacificar a região, contando com o apoio de Monte
Alegre, que enviou um contigente para reforçar a tropa legalista.
Ao final do movimento cabano, Monte Alegre havia pago um alto
preço: além das centenas de vidas ceifadas, de ambos os lados conflitantes, os
cacoais, sua principal fonte de riqueza, estavam destruídos ou
abandonados.
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MONTE ALEGRE APÓS O PERÍODO DA
CABANAGEM
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A partir de 1840, a recuperação da economia do município
passou a ser a maior preocupação em Monte Alegre. Essa recuperação foi iniciada
na região dos lagos e às margens dos principais rios da região, o Amazonas, o
Maecuru e o Gurupatuba. Tradicional sociedade de agricultores e pastores, os
montealegrenses dedicaram-se, novamente, a lavrar terra, abrindo novos cacoais e
implantando novas fazendas de criação de gado. E o esforço não foi em vão, haja
vista que, em menos de duas décadas, o município já estava produzindo café,
algodão e cacau (REIS, op cit).
Na vila, à época habitada por apenas 4.000 moradores, a câmara concedia
terrenos nas partes alta e baixa da cidade, além de incentivar a abertura de
novos comércios, visando aumentar a renda local.
Uma significativa mudança, na vida do município, começou a ocorrer a partir
de 1860, quando, atraída pelas vantagens oferecidas para a exploração dos
seringais, a mão-de-obra montealegrense foi abandonando a lavoura do cacau e a
criação do gado, migrando para os vales do rios Tapajós, Xingu e Madeira. Assim
como outros milhares de brasileiros, os ex-agricultores de Monte Alegre também
foram seduzidos pela possibilidade de auferir maiores ganhos com a extração da
seiva da Hevea brasiliensis (seringueira), atividade que influenciou, de maneira
definitiva, a história econômica da Amazônia.
Após a proclamação da República, ocorreu uma ampla reorganização da
administração pública brasileira, sendo extintas as Câmaras Municipais e criados
os Conselhos Municipais. Em Monte Alegre, a extinção da Câmara ocorreu no dia 3
de fevereiro de 1890 (Decreto nº 27), sendo criado, no mesmo dia, o Conselho de
Intendência Municipal (Decreto nº 28), com a imediata nomeação de todos os seus
membros. No ano seguinte, foi realizado o primeiro pleito municipal, sob o
regime republicano, sendo eleito o Presidente do Conselho (e, conseqüentemente,
o Intendente Municipal), Augusto Teodorico Nunes, além dos vogais Pedro Paulo de
Macedo, Miguel Maria A. Lopes, João Antônio Dias de Lima e Veríssimo Ferreira de
Moraes (CORRÊA, 1976).fonte: Portal de Variedades filhos e amigos de Monte Alegre