terça-feira, 21 de junho de 2011

A política num mundo em crise


O ser humano é, por natureza, um ser político. Tudo o que faz ou deixa de fazer – no lar ou no bairro, na fábrica ou no sindicato, no partido político ou na universidade – não deixa de ser uma atividade política. Da política depende a vida de cada um e o bem-estar de todos. Apesar disso, uma grande parte da população diz não querer saber de política.
Mas, o que vem a ser “política”? Para os antigos gregos, é a ciência do governo da cidade, a arte e a virtude do bem comum. Mais contemporaneamente, compreende-se como o conjunto de ações pelas quais os homens e as mulheres buscam formas de convivência entre os indivíduos, os grupos e as nações.
A cultura brasileira se caracteriza pelo desconhecimento do dever cívico de participar da política, sobretudo, pela falta de informação adequada acerca do objetivo real das discussões políticas e pelo não conhecimento dos aspectos mais rudimentares do processo político. Não é de se admirar, então, que estejamos enfrentando problemas que há muito tempo deveriam ter sido resolvidos.
A indiferença diante do que acontece ao nosso redor é um desastre, do ponto de vista social, e um pecado, do ponto de vista evangélico. Como cristãos, somos chamados a introduzir em nossa sociedade valores, que ouro algum do mundo seria capaz de comprar: justiça, liberdade, respeito, tolerância, reconciliação, gratuidade, ética etc.
Ao criar o homem e a mulher, Deus tinha um projeto: formar uma grande família. Nela, a fraternidade e a comunhão deveriam ser valores sempre presentes. Mas, na história da salvação, pecado e graça se misturam. Vemos isso no Antigo Testamento: o Povo de Deus, formado para preparar a vinda do Messias, afastou-se diversas vezes do projeto inicial de Deus, deixando-se dominar por interesses particulares. Coube aos profetas, então, a difícil missão de chamar o povo ao arrependimento e à fidelidade. Igualmente, no Novo Testamento: os Atos dos Apóstolos apontam a ganância de alguns e o egoísmo de muitos que viviam na sociedade da época.
Ao iniciar sua pregação, Jesus anunciou: “O tempo está realizado e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Havia, na Palestina, diversos partidos políticos que dominavam a região – uns prós e outros contra os romanos. Jesus, contudo, não se identificou com nenhum deles. Ensinou seus seguidores a destacar-se na luta pela dignidade da pessoa humana, pela defesa da vida e pela construção da civilização do amor.
Em nossa época, outros são os desafios e, novos, são os nomes dos excluídos da sociedade. O campo de ação do discípulo de Cristo é imenso: criar ou apoiar organismos voltados para os mais necessitados; denunciar as violações dos direitos humanos; encorajar a opção evangélica pelos pobres; contribuir para a educação política; acompanhar os cristãos engajados na política partidária; candidatar-se para defender bandeiras que dignificam a vida humana etc.
A Igreja, como Jesus, não se identifica com nenhum partido político, mas preocupa-se com a dimensão política da sociedade. Exercita sua preocupação incentivando os leigos a se interessarem pela política partidária. A tarefa do político não é fácil, em uma época em que o “ibope” dos políticos anda tão baixo. Não se pode esquecer, contudo, que foi nos momentos de crise que a humanidade deu seus mais importantes passos.
No café da manhã que tive, semana passada, no Instituto Feminino da Bahia, com políticos do município de Salvador e do Estado da Bahia, guiei-me por essas convicções. Depois de rezar a oração que Salomão dirigiu a Deus, pedindo-lhe sabedoria (Sabedoria 9) – isto é, a capacidade de ver o mundo, os outros e, especialmente, os necessitados, com o olhar do próprio Deus –, lembrei a meus convidados o quanto eles necessitam dessa virtude em sua nobre e árdua missão. Disse-lhes, também, que a Igreja Católica não queria formar um grupo para a defesa de alguma necessidade sua, mas que desejava ver seus filhos e filhas que atuam no mundo político lutando, com determinação, pelas grandes necessidades da sociedade. Foi um dos belos momentos que vivi aqui, neste início de pastoreio.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de Salvador - BA


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