segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Denunciado, de novo

O bispo Edir Macedo e mais três dirigentes da Igreja Universal são mais uma vez acusados de estelionato e lavagem de dinheiro

O PROBLEMA CONTINUA Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Ele é acusado de enviar ilegalmente para o exterior o dízimo dos fiéis e desviá-lo para a compra de empresas de comunicação (Foto: José Patrício/AE)
O histórico dos problemas na Justiça do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, acaba de ganhar novo capítulo. Ao lado de outros três dirigentes da igreja, ele foi acusado de formação de quadrilha, estelionato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e falsidade ideológica, desta vez pelo Ministério Público Federal. Segundo o procurador Sílvio Luís Martins de Oliveira, que assina a denúncia, o dinheiro doado por fiéis em busca de proteção divina foi parar ilegalmente no exterior e desviado para a constituição de veículos de comunicação no país.
A atual denúncia foi baseada numa investigação feita pelo Ministério Público Estadual de São Paulo. Apresentada à Justiça em 2009, ela não seguiu em frente por uma questão meramente formal: os juízes entenderam que a investigação não era uma atribuição estadual, mas federal. Com a denúncia apresentada na semana passada, esse problema deixa de existir.
Além de Macedo, foram denunciados o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição, a diretora financeira Alba Maria Silva da Costa e o ex-deputado federal João Batista Ramos da Silva, ex-dirigente da Universal. Em 2005, João Batista foi flagrado pela Polícia Federal em Brasília tentando embarcar num jatinho para São Paulo com R$ 10 milhões em espécie.
 
O Ministério Público Federal pode pedir o fim da imunidade tributária da Igreja Universal  
De acordo com o procurador Martins de Oliveira, eles cometeram estelionato ao obter dinheiro de fiéis oferecendo “falsas promessas”. Entre 2003 e 2006, a Universal declarou à Receita Federal ter recebido R$ 5 bilhões por meio de dízimos e outras doações. Mas, segundo depoimento de um ex-colaborador de Macedo, esse montante correspondeu a apenas 10% do valor arrecadado. O restante era enviado por doleiros ao exterior. A declaração foi registrada em novembro de 2009 em cartório por Waldir Abrão, ex-dirigente da Universal e ex-vereador, seis dias antes de ele ser encontrado morto em seu prédio com um ferimento na cabeça. De acordo com o Ministério Público, as circunstâncias da morte não foram totalmente esclarecidas.
Segundo o Ministério Público, o dinheiro arrecadado dos fiéis era enviado a duas empresas no exterior controladas por pessoas ligadas à Universal: uma nas Ilhas Cayman, no Caribe, e a outra em Jersey, no Reino Unido. Depois, esse dinheiro voltava para o Brasil e era usado para a compra de veículos de comunicação, que acabavam registrados em nome de bispos ou outras pessoas ligadas à igreja
Para enviar os dólares, de acordo com o procurador, a Universal usava uma casa de câmbio. Em depoimento, doleiros do estabelecimento afirmaram que as cédulas chegavam “amassadas, rasgadas, coladas com durex, suadas e rabiscadas”, o que corrobora a versão de que se tratava de dinheiro miúdo recolhido dos fiéis. As notas eram contadas sempre na presença de algum pastor da igreja, por vezes em estacionamentos dos templos.
A Justiça Federal em São Paulo vai analisar agora a denúncia. Se condenados, os quatro denunciados poderão pegar até 29 anos de prisão. O processo pode ter outras consequências para a Universal. O procurador Martins de Oliveira enviou um ofício a sua colega de Ministério Público que cuida da área cível em que pede a cassação da imunidade tributária da Universal. Procurada, a Universal não quis se pronunciar, sob a alegação de que seus advogados não tiveram acesso à denúncia.

 fonte: Angelo Pinho/ revista época

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