quarta-feira, 14 de março de 2012

MONTE ALEGRE: PARABÉNS PELOS SEUS 132 ANOS

Histórico do Município de Monte Alegre

A história da maioria dos municípios da Amazônia, ainda é envolto em algumas incertezas, a maioria dos estudos históricos é baseada em pesquisas feitas por estudiosos que realizaram suas atividades há muito tempo atrás, e não obstante são tomados como base, para os trabalhos mais recentes, não se pode é claro, desmerecer os historiadores do passado, mas temos que ter a clareza, que muitas afirmações são baseadas apenas em divagações e entrevistas orais, que vão passando por gerações.

O desprezo pelo zelo da história, não é de agora, documentos importantes de nossa história se perderam no tempo, por não haver conservação nem interesse para isso. Se hoje um historiador viesse à sede do município para fazer uma pesquisa, que embasasse uma história consistente e verdadeira, não encontraria muita coisa conservada, o máximo que seria encontrado seriam os registros cartorários, alguns documentos religiosos e talvez alguns também na Prefeitura Municipal, mas, nada que remetesse aos primórdios de nossa história.

O relato da história do município de Monte Alegre, feito neste site, é baseado, em historiadores e estudiosos da história regional do Pará. E sempre nos remeteremos à fonte de consulta, para repartir, assim, responsabilidade, sobre a veracidade dos fatos.



A GÊNESE


Para muitos historiadores, entre eles o célebre Arthur César Ferreira Reis (1942), O Município de Monte Alegre é conseqüência de uma das mais antigas fundações urbanas da região Amazônica, cuja origem pode anteceder à própria ocupação da região pelos colonizadores lusitanos.

Segundo os relatos históricos, o primeiro navegador estrangeiro que explorou a região do Médio-Baixo Amazonas foi o espanhol Francisco Orellana, em 1540, durante a sua viagem ao longo do Grande Rio, percorrendo-o de sua nascente até sua foz. Essa viagem deu origem a muitas lendas, como a da tribo das índias Amazonas, que deu nome à região, ao principal rio e ao maior Estado, o Amazonas.

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A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA

Os primeiros colonizadores portugueses chegaram à região do Médio-Baixo Amazonas em 1639, integrando a expedição comandada pelo capitão Pedro Teixeira (FRIAES, 1997). O primeiro local visitado foi o aldeamento de Gurupatuba, localizado na margem esquerda do paraná homônimo, cuja denominação foi herdada dos índios Gurupatuba, antigos habitantes da região. Além dos Gurupatuba, outros grupos de silvícolas viviam na região, como os Carabocas, os Bubuizes, os Mariaus e os Serranos (REIS, 1942).

No início da colonização portuguesa, coube aos religiosos Capuchos da Piedade grande parte das terras da margem esquerda do rio Amazonas, para fundarem “missões” que tinham como principal objetivo a catequese dos índios, daquela região. Segundo alguns historiadores, essa catequese teria sido iniciada no começo do século XVIII, antes de 1710, considerando que uma Carta Régia datada de 2 de julho, daquele ano, entregava, a região do Jarí, aos padres da Companhia de Jesus, excluindo os religiosos das ordens das Mercês e da Piedade, os quais, no entendimento daqueles historiadores, já se encontravam em serviço de catequese, na margem esquerda do Amazonas.

Embora não exista uma definição com relação à época de fundação do núcleo originário da atual cidade de Monte Alegre, é aceito que os Capuchos da Piedade teriam iniciado a colonização do município, a partir da criação de uma missão, na aldeia dos Gurupatuba, às margens do paraná homônimo; posteriormente, a mesma teria sido transferida para o local onde está erigida, atualmente, a sede municipal (CORRÊA, 1976).

Existem, todavia, controvérsias entre os historiadores com relação à ordem religiosa que estabeleceu a primeira “missão” na aldeia de Gurupatuba. Segundo Arthur Cezar Ferreira Reis, um dos mais brilhantes estudiosos da história de Monte Alegre, o primeiro posto de catequese na aldeia foi estabelecido por religiosos da Companhia de Jesus, jesuítas, ainda no século XVII. De acordo com o mesmo autor, o jesuíta missionário João Felipe de Bettendorf, nascido em Luxemburgo, visitou a aldeia de Gurupatuba em 1661, tendo ali erguido uma cruz. A partir de 1681, a aldeia passou a contar com a presença permanente dos religiosos Inacianos, responsáveis pela edificação de uma igreja a Nossa Senhora da Conceição. Nesse período, Gurupatuba experimentou uma fase de grande desenvolvimento, chegando a representar, pela sua importância, o papel de uma verdadeira capital das missões do Baixo Amazonas. Com a chegada dos frades da Piedade, à região, Gurupatuba passou para o domínio dos mesmos, que ali se estabeleceram por mais de meio século, edificando, entre outras obras, um grande templo em homenagem a São Francisco de Assis, hoje padroeiro da cidade de Monte Alegre. Durante a administração dos frades da Piedade, a posição de destaque que era ocupada por Gurupatuba foi transferida para Gurupá, onde aqueles religiosos construíram uma estrutura maior.

Por sua posição geográfica, Gurupatuba representava o núcleo populacional amazônico mais ocidental, sob o domínio português. O estabelecimento das missões religiosas na Amazônia obedecia a um critério geográfico, uma vez que as mesmas se situavam, geralmente, em pontos estratégicos. Assim, além do religioso, existia o cunho político, pois, a pretexto de guarnecer as missões estabelecidas, o governo de Portugal instalava fortificações militares em pontos estratégicos, estendendo o seu domínio através de uma região que, por força do Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha.
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O FIM DO PERÍODO COLONIAL

No Brasil colônia,encerrado o Período Pombalino, a ascensão de D. Maria I ao trono de Portugal - devido ao falecimento de D. José -n não trouxe, de imediato, qualquer mudança significativa para as vilas instaladas na região amazônica. Em Monte Alegre, como em todo o restante da Amazônia sob o domínio português, nas últimas décadas do Período Colonial, o quadro social era extremamente desfavorável ao primitivo habitante da região - o índio - do qual dependia qualquer ação executada pelo poder constituído ou pelos colonos. Sem a presença do índio, o Estado não teria mão-de-obra para a colheita, para a construção de obra públicas e para os contingentes militares; os colonos não teriam como desenvolver suas atividades.
Todavia, mesmo sendo reconhecida a sua importância para o desenvolvimento da região, o índio era vítima da voracidade do Estado, através das ações de diretores de vilas que os exploravam e os hostilizavam, num flagrante descumprimento às instruções legais de proteção aos silvícolas. Esses desmandos só foram minimizados a partir do governo de D. Francisco Maurício de Souza Coutinho, que também foi o responsável pela instalação, em Monte Alegre, de uma serraria para beneficiamento de madeiras nobres- principalmente o cedro- cujos troncos eram carregados pelo rio Amazonas, em direção ao Atlântico.
A serraria Real, inaugurada no final do século XVIII, beneficiava as toras de cedro, transformando-as em pranchas que eram comercializadas com Belém, e, desta, exportadas para Lisboa, a fim de atender às grandes construções que eram realizadas em Portugal.
A “pesca” e o posterior beneficiamento de toras de madeiras-de-lei transformou-se em um próspero negócio para os montealegrenses, que se tornaram em grandes fornecedores de matéria-prima para a construção naval, notadamente em Belém, onde eram construídos navios para a frota lusitana (REIS, op cit).
Na segunda década do século XIX, devido à escassez de matéria-prima e à má administração exercida pelo governo do Estado, a serraria Real encerrou suas atividades, em Monte Alegre, transferindo-as para o vizinho município do Óbidos. Essa transferência representou mais uma perda para Monte Alegre, que, ao final do período colonial, via diminuir sua importância econômica.
Os ideais que nortearam a Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) espalharam-se pelo novo mundo e chegaram à Amazônia, no início da 3ª década do século XIX (1821), encontrando um clima propício à sua disseminação. Em Belém, as diferenças eram marcantes entre os reinóis (pessoas naturais do reino) e os paraenses; enquanto os primeiros representavam o poder e a opulência, aos nativos restavam o mal-estar, a fome e as demais dificuldades que sempre são impostas às classes menos favorecidas. Dessa maneira, as idéias de democracia dos filósofos europeus passaram a constituir a aspiração maior da gente da região.
O inevitável choque entre esses dois grupos sociais ecoou por todo o interior do Estado. Em Monte Alegre, a elite social e econômica era representada pelos fazendeiros de gado, os proprietários das plantações de cacau, os exploradores do setor madeireiro, enfim, os senhores da terra. A grande maioria da população, representada por descendentes de índios, vivia à margem das mais elementares conquistas sociais e, naturalmente, sonhava com mudanças nesse tão injusto quadro social.
Assim, a sonhada Independência foi recebida com grande entusiasmo pelos montealegrenses e, a 12 de outubro de 1822, Monte Alegre declarava sua adesão ao novo sistema liberal. Por ocasião da Independência do Brasil, Monte Alegre ainda detinha status de vila, o que foi mantido, mesmo após a nova divisão administrativa da Amazônia, estabelecida pelo Conselho Provincial, depois de decretado o Código do Processo Criminal do Império (REIS, op cit).
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A CABANAGEM NA REGIÃO DE MONTE ALEGRE
A cabanagem, o único movimento revolucionário através do qual o povo brasileiro chegou efetivamente ao poder, foi desencadeada na Província do Grão-Pará, no período de 1833 a 1840.
Àquela época, embora o Brasil já estivesse independente há mais de uma década, no norte do País, mais precisamente no Pará, os portugueses agiam como se a Nação Brasileira ainda fosse colônia de Portugal, causando profundo mal-estar e descontentamento na população nativa, notadamente nos mais pobres, que residiam nas periferias da capital e nas regiões ribeirinhas. Estes, via de regra, viviam em habitações extremamente modestas, cobertas de palhas e denominadas “cabanas”.
Assim, a principal causa da revolta era o antagonismo entre portugueses e brasileiros, fomentador de um crescente sentimento de ódio aos dominadores, aliado a um forte sentimento nacionalista.
Com a explosão do movimento revolucionário na capital da Província, precipitado pela morte prematura do cônego Batista Campos-mentor intelectual da Cabanagem - Monte Alegre passou a viver dias de agitação, assumindo a segurança da vila o capitão-mor Antônio Clemente Malcher (ironicamente, primo do primeiro presidente cabano, Félix Antônio Clemente Malcher, um montealegrense), que comandava a terceira Companhia da Guarda Nacional.
Sob o comando de Antônio Malcher, Monte Alegre preparou-se para a luta armada, guarnecendo a vila para enfrentar um possível ataque dos rebeldes cabanos, além de enviar uma expedição a Belém, para apoiar as forças “legalistas”. A seguir, aliou-se a Santarém, onde funcionava a Comarca do Baixo Amazonas, cujo juiz de direito - Dr. Joaquim Rodrigues de Souza – assumiu a defesa da região, promovendo as ações necessárias à manutenção “da ordem e da legalidade”, em todo o Baixo Amazonas.
O clima de tensão perdurou por todo o ano de 1835. Todavia, o esperado ataque a Monte Alegre não aconteceu, apesar das ondas de boatos que davam conta da presença cabana, às proximidades. O estado de tensão atingiu o clímax no final daquele ano, quando foi descoberto o plano cabano para tomar de assalto a vila, na noite de Natal. Com a prisão dos mentores da pretensa invasão – Hilário Inácio Pereira, José Pires, Alexandre Sanches de Brito, Isidro Antônio Raiol e Teodoro Ruiz Vieira – imaginaram os montealegrenses que o perigo havia passado. Todavia, na madrugada de 28 de fevereiro de 1836, depois de ocuparem Breves e Gurupá, os cabanos finalmente atacaram Monte Alegre. A primeira vítima foi o capitão- mor Antônio Clemente Malcher, seguindo-se a execução de inúmeros moradores. Monte Alegre, da mesma forma que as demais vilas do Alto e Baixo Amazonas, estava sob o domínio cabano (REIS op cit).
Durante a ocupação de Monte Alegre, o governo da Província era exercido por Eduardo Angelim, que foi o terceiro presidente cabano. Os rebeldes de Monte Alegre, circunstancialmente no poder, reuniram a câmara local e impuseram o reconhecimento de Angelim como presidente da Província. A vitória cabana, àquela altura, estava consumada.
A partir de Monte Alegre, os rebeldes, cada vez mais fortalecidos com a chegada de novos adeptos à causa, desencadeavam expedições aos núcleos que ainda opunham alguma resistência à dominação cabana.
Entretanto, na capital, aumentava cada vez mais a resistência à revolução cabana. Em abril de 1836, à frente de um forte aparato militar, o general Francisco José Soares Andréa conseguia depor Eduardo Angelim e retomar o governo da Província. Da mesma maneira, o Alto e o Baixo Amazonas também iniciavam sua reação, na tentativa de restaurar a “legalidade” em toda a região. Em Monte Alegre, à frente da resistência estavam o presidente da Câmara, Francisco José Nunes, o vigário Antônio Macário Alves da Costa, o juiz municipal Tomaz Ferreira e o juiz de órfãos Vitório de Assunção. E, a 22 de julho de 1836 tinha fim a dominação em Monte Alegre, muito embora os cabanos tenham realizado outras tentativas de retomada do poder.
Finalmente, em outubro do mesmo ano, aportou em Santarém uma grande expedição enviada pelo general Soares Andréa, com o objetivo de expulsar definitivamente os cabanos e pacificar a região, contando com o apoio de Monte Alegre, que enviou um contigente para reforçar a tropa legalista.
Ao final do movimento cabano, Monte Alegre havia pago um alto preço: além das centenas de vidas ceifadas, de ambos os lados conflitantes, os cacoais, sua principal fonte de riqueza, estavam destruídos ou abandonados.
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MONTE ALEGRE APÓS O PERÍODO DA CABANAGEM

A partir de 1840, a recuperação da economia do município passou a ser a maior preocupação em Monte Alegre. Essa recuperação foi iniciada na região dos lagos e às margens dos principais rios da região, o Amazonas, o Maecuru e o Gurupatuba. Tradicional sociedade de agricultores e pastores, os montealegrenses dedicaram-se, novamente, a lavrar terra, abrindo novos cacoais e implantando novas fazendas de criação de gado. E o esforço não foi em vão, haja vista que, em menos de duas décadas, o município já estava produzindo café, algodão e cacau (REIS, op cit). Na vila, à época habitada por apenas 4.000 moradores, a câmara concedia terrenos nas partes alta e baixa da cidade, além de incentivar a abertura de novos comércios, visando aumentar a renda local.
Uma significativa mudança, na vida do município, começou a ocorrer a partir de 1860, quando, atraída pelas vantagens oferecidas para a exploração dos seringais, a mão-de-obra montealegrense foi abandonando a lavoura do cacau e a criação do gado, migrando para os vales do rios Tapajós, Xingu e Madeira. Assim como outros milhares de brasileiros, os ex-agricultores de Monte Alegre também foram seduzidos pela possibilidade de auferir maiores ganhos com a extração da seiva da Hevea brasiliensis (seringueira), atividade que influenciou, de maneira definitiva, a história econômica da Amazônia.
Após a proclamação da República, ocorreu uma ampla reorganização da administração pública brasileira, sendo extintas as Câmaras Municipais e criados os Conselhos Municipais. Em Monte Alegre, a extinção da Câmara ocorreu no dia 3 de fevereiro de 1890 (Decreto nº 27), sendo criado, no mesmo dia, o Conselho de Intendência Municipal (Decreto nº 28), com a imediata nomeação de todos os seus membros. No ano seguinte, foi realizado o primeiro pleito municipal, sob o regime republicano, sendo eleito o Presidente do Conselho (e, conseqüentemente, o Intendente Municipal), Augusto Teodorico Nunes, além dos vogais Pedro Paulo de Macedo, Miguel Maria A. Lopes, João Antônio Dias de Lima e Veríssimo Ferreira de Moraes (CORRÊA, 1976).fonte: Portal de Variedades filhos e amigos de Monte Alegre

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